Ex-primeira dama diz que foi ameaçada de morte durante campanha de Collor em 2006. “Sou um arquivo vivo”.
Por Luan Borges
Ponto Notícia
O ano era 1990, o dia era 15 de março. Fernando Collor de Mello assumiu a presidência do Brasil com 40 anos, o mais jovem presidente do país. Ao seu lado, Rosane Malta Collor de Mello, sua esposa, com apenas 26 anos. De 1990 até hoje, já se passou quase 20 anos, e muita coisa mudou. Rosane não é mais casada com Fernando Collor, e o presidente deposto hoje é senador da república por Alagoas.
Rosane Collor hoje
Rosane Malta contou em entrevista ao jornal “Extra”, do Rio de Janeiro, que em setembro de 2006, com o casamento entre Fernando e Rosane já desfeito, a ex-primeira dama da República recebe um telefonema em sua mansão no bairro de Murilópolis, em Maceió. Uma voz ameaçava de morte a ex-esposa de Collor. Nessa mesma época, Collor esaiava seu retorno à política desde a derrota à Prefeitura de São Paulo, em 1998.
Rosane ia lançar um CD gospel de Cecília de Arapiraca em Alagoas. Segundo Rosane, a voz dizia que “se fosse ao evento, eu não iria voltar”, relembra ela, hoje com 45 anos. Na época, Rosane havia confirmado as declarações da ex-mãe de santo Cecília de Arapiraca que o ex-presidente participava de rituais macabros. Segundo Rosane, os rituais eram “para abrir caminho”.
“Havia rituais la na Casa da Dinda. Era pra abrir caminho, aquelas coisas. As pessoas mandavam coisas ruins pra ele e ele mandava de volta. Ele acreditava nisso”.
Rosane também confessa que tem medo de morrer.
“Se disser que não tenho medo de morrer, estaria mentindo. Acredito que Deus me ama e não vai permitir que nada de mal me aconteça, mas que sou um arquivo vivo, eu sou. Presenciei fatos que o Fernando não gostaria que viessem à tona”.
Rosane conta que Collor sumiu de casa sem avisar. “Fiquei sabendo através dos jornais”, conta Rosane sobre o relacionamento de Collor com a atual esposa, Caroline Medeiros. “Eu ainda estava casada com ele, nem sabia que já estava separada. De acordo com Rosane, ela e Collor não se falam há mais de 4 anos.
Desde a separação, Rosane vive mais humildemente. Quando se casou, assinou um pacto abrindo mão de todos os bens de Fernando, incluindo as empresas da Organização Arnon de Mello – grupo que inclui uma TV, um jornal, um site de notícias, uma gráfica e quatro rádios. Atualmente, Rosane recebe uma pensão de R$13 mil de Collor. O senador ainda paga o salário de quatro funcionários da mansão de Rosane. As viagens para Courchevel, nos Alpes franceses, foram substituídas por viagens ao redor de Maceió, e ela dirige seu próprio carro, um Fiesta 2007. A vida de esposa de marajá foi deixada de lado.
Rosane acusa Collor de ter “confiscado”, ao melhor estilo “Plano Collor”, suas joias e malas da grife “Louis Vuitton” que tinham as iniciais do casal. “Achei tão pequeno, nunca achei que fosse terminar assim”, confessa Rosane. Para ela, a separação foi pior que o impeachment:
“No impeachment, nós perdemos um cargo. Mas, agora, foi a minha vida. Estava debilitada, frágil, tinha perdido a minha mãe (em maio de 2004). Imagina você chegar em casa e não encontrar mais o seu marido? Em quatro anos e meio, nunca ter falado com ele ao telefone, nunca ter tido um contato com ele? Então, isso é o que mais dói. Essa interrogação, porque tudo isso? Ninguém é obrigado a viver com ninguém. As pessoas têm o direito de ser felizes, mas elas têm de ser leias, íntegras”.
Rosane também diz ter se decepcionado com Collor como homem:
“Eu não me decepcionei com o Collor, eu me decepcionei com o Fernando, meu marido, com a pessoa com quem vivi durante 22 anos. Essa pessoa que está aí hoje, eu não conheço. Ou, talvez, como meu analista falou, acreditei que ele pudesse fazer com as outras pessoas, mas que seria incapaz de fazer comigo, por tudo que passamos. Então, me decepcionei com o homem. E muito”.
Além dos fatos atuais, na entrevista Rosane abre o jogo sobre algumas questões do passado, como a relação entre Renan Calheiros e Collor, a briga entre Pedro e Fernando, sua inimizade com Thereza Collor e o escândalo na LBA.
‘Fui inocentada’
“Acho que cometi um erro quando assumi a LBA (Legião Brasileira de Assistência, extinta no governo de FHC). Eu poderia ter colocado uma pessoa pra fazer tudo aquilo que eu queria, só que eu não assinaria nada. Então, eu não teria tido problemas. Tive problemas, mas graças a Deus fui inocentada. Até o meu salário como presidente da LBA eu doava para entidades carentes. E a prova é que não tenho nada no meu nome.”
‘Sentada ao lado da princesa Diana’
“Sempre procurei e pedi a Deus que o poder não subisse à minha cabeça, porque ele é efêmero. Imagina uma menina de 26 anos, primeira-dama do país, sentada ao lado da princesa Diana… Então, essas fazem com que você se deslumbre um pouco e as facilidades também. O que você sonha, está ali. Num estalar de dedos, tem tudo. Você chega nos melhores hotéis, com tudo à disposição, é uma mordomia muito grande.”
‘Idealismo não existe’
“O Renan apoiou o Fernando para a Presidência. Depois romperam e, agora, estão juntos. Aliás, todos estão juntos. Na política, não me surpreendo com mais nada, idealismo não existe.”
‘Foi um pesadelo aquela noite’
“O dia da votação do impeachment (29 de setembro de 1992) foi o pior, antes da renúncia. Foi um pesadelo aquela noite. Ele me ligava de minuto em minuto, mais um voto contra, mais um voto contra… E de pessoas que haviam estado com a gente na véspera e diziam estar a favor dele.”
‘Não me dou com ela’
“A Thereza Collor criou essa história de que vez de eu falar ‘estola de pele’, falei ‘pistola’. Isso é mentira. Não me dou com ela. Ela me fez muito mal. Nunca tivemos relação boa, mas me dou bem com os filhos dela… Ela não permitiu que Fernando e Pedro se vissem quando o marido estava morrendo.”
‘Venha conversar comigo’
“Eu e Fernando nunca mais trocamos uma palavra. Eu o vi só uma vez, aqui em Maceió, mas não nos falamos. Fiquei em estado de choque (…) Fernando, por favor, foram 22 anos que a gente viveu juntos, faço um apelo: venha conversar comigo.”
‘Madame está gastando muito’
“Tínhamos relacionamento, sim (com PC Farias, tesoureiro de Collor na campanha de 89). Nunca viajamos juntos, mas fomos ao Sambódromo, ele dançou tango lá. Lá na Casa da Dinda, tomava café da manhã. Mas nunca soube que era ele quem pagava as contas. Tanto que tomei um susto quando ele disse: ‘Madame está gastando muito’. Achava até que Fernando é quem depositava (dinheiro), que a secretária dele, Ana Acioli, era quem colocava na minha conta. De onde vinha (o dinheiro) não ia perguntar, nunca perguntei.”
Procurado ao tomar posse na Academia Alagoana de Letras, no dia 23 de outubro, Fernando Collor não quis falar sobre as declarações de Rosane ou qualquer outro assunto.
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