A televisão e a Globo de Chacrinha


Porque Chacrinha não teria espaço hoje na época da TV “polticiamente correta”

Luan Borges
Ponto Notícia

“Vocês querem bacalhau?”, “Vai para o trono ou não vai?”, “Na TV nada se cria, tudo se copia!”, “Eu vim para confundi e não para explicar!”. José Abelardo Barboda de Medeiros, conhecido popularmente como Chacrinha, com suas roupas espalhafatosas, sua inseparável buzina, fez história na TV com sua irreverência e jeito inconfundível.

Chacrinha estreou na televisão em 1956, no programa “Rancho Alegre”, na extinta TV Tupi. Logo após, começou a fazer o “Discoteca do Chacrinha” também na TV Tupi, e em seguida foi para a TV Rio. Em 1970, foi contratado pela Rede Globo e fez dois programas semanais: “A Buzina do Chacrinha”, de calouros, e “Discoteca do Chacrinha”. Em 1978, transferiu-se para a TV Bandeirantes, e em 1982, retornou à Globo com o “Cassino do Chacrinha” nas tardes de sábado.

Acompanhado de suas assistentes de palco, batizadas de Chacretes, surgiram as “Dançarinas do Faustão”, “Panicats”, “Hucketes” e foi o embrião das atuais mulheres-frutas. As Chacretes recebiam nomes exóticos: Graça Portellão, Índia Poti, Sandra Pérola Negra, Soninha Toda Pura, Sarita Catatau, Sueli Pingo de Ouro, Valéria Mon Amour, Fátima Boa Viagem, Fernanda Terremoto, Regina Polivalente, e, a mais famosa de todas, Rita Cadillac.

Chacrinha faleceu com 70 anos, no dia 30 de junho de 1988, e junto com ele, foi um formato de politicamente incorreto. Chacrinha levou para a Globo um formato de programa que hoje seria inviável: como permitir que um apresentador jogue bacalhau no público? Que artista iria num programa para ser motivo de chacota pelo apresentador?

Hoje, os críticos de televisão se chocam quando Silvio Santos, outro símbolo do tempo áureo da televisão brasileira, pergunta à Carla Perez se ela “fez ensino fundamental”. O que eles diriam então de um apresentador que taca penicos na plateia? Inviável.

A TV hoje vive a era do correto. Aquilo que sai da cartilha dos padrões estéticos e sociais da TV, ou melhor, da Globo, é taxado para os críticos de “popularesco”, “ruim” e “inculto”. Assim foi com o “Programa do Ratinho”, assim é com o “Pânico”. Saem dos padrões globais, desobedecem as cartilhas e normas criadas pelos manda-chuvas da TV. Chacrinha praticamente rasgava a cartilha que hoje é obedecida, e copiada, pelas maiores redes de TV.

Deus abençoe Chacrinha, que estaria estarrecido vendo o atual estado da televisão brasileira, com Geraldo Luís, Márcia Goldsmicht, Faustão e Gugu. Hoje, Chacrinha não teria espaço, estaria velho e antiquado. Afinal, os mais velhos da televisão hoje são Silvio Santos, dono do SBT, e Hebe Camargo, amiga do dono do SBT. Chacrinha não iria atrair anunciantes, afinal, seu público eram as classes C, D e E, a escória publicitária da TV.

Chacrinha fez história na TV, e, hoje, infelizmente, sua cartilha é seguida por poucos, e não corretamente. Uns tentam, como Fausto Silva, outros inovam, como o “Pânico”, mas Chacrinha, o Velho Guerreiro, é insubstituível.

Rosane Collor diz ter medo de morrer

Ex-primeira dama diz que foi ameaçada de morte durante campanha de Collor em 2006. “Sou um arquivo vivo”.

Por Luan Borges
Ponto Notícia

O ano era 1990, o dia era 15 de março. Fernando Collor de Mello assumiu a presidência do Brasil com 40 anos, o mais jovem presidente do país. Ao seu lado, Rosane Malta Collor de Mello, sua esposa, com apenas 26 anos. De 1990 até hoje, já se passou quase 20 anos, e muita coisa mudou. Rosane não é mais casada com Fernando Collor, e o presidente deposto hoje é senador da república por Alagoas.

Rosane Collor hoje

Rosane Malta contou em entrevista ao jornal “Extra”, do Rio de Janeiro, que em setembro de 2006, com o casamento entre Fernando e Rosane já desfeito, a ex-primeira dama da República recebe um telefonema em sua mansão no bairro de Murilópolis, em Maceió. Uma voz ameaçava de morte a ex-esposa de Collor. Nessa mesma época, Collor esaiava seu retorno à política desde a derrota à Prefeitura de São Paulo, em 1998.

Rosane ia lançar um CD gospel de Cecília de Arapiraca em Alagoas. Segundo Rosane, a voz dizia que “se fosse ao evento, eu não iria voltar”, relembra ela, hoje com 45 anos. Na época, Rosane havia confirmado as declarações da ex-mãe de santo Cecília de Arapiraca que o ex-presidente participava de rituais macabros. Segundo Rosane, os rituais eram “para abrir caminho”.

“Havia rituais la na Casa da Dinda. Era pra abrir caminho, aquelas coisas. As pessoas mandavam coisas ruins pra ele e ele mandava de volta. Ele acreditava nisso”.

Rosane também confessa que tem medo de morrer.

“Se disser que não tenho medo de morrer, estaria mentindo. Acredito que Deus me ama e não vai permitir que nada de mal me aconteça, mas que sou um arquivo vivo, eu sou. Presenciei fatos que o Fernando não gostaria que viessem à tona”.

Rosane conta que Collor sumiu de casa sem avisar. “Fiquei sabendo através dos jornais”, conta Rosane sobre o relacionamento de Collor com a atual esposa, Caroline Medeiros. “Eu ainda estava casada com ele, nem sabia que já estava separada. De acordo com Rosane, ela e Collor não se falam há mais de 4 anos.

Desde a separação, Rosane vive mais humildemente. Quando se casou, assinou um pacto abrindo mão de todos os bens de Fernando, incluindo as empresas da Organização Arnon de Mello – grupo que inclui uma TV, um jornal, um site de notícias, uma gráfica e quatro rádios. Atualmente, Rosane recebe uma pensão de R$13 mil de Collor. O senador ainda paga o salário de quatro funcionários da mansão de Rosane. As viagens para Courchevel, nos Alpes franceses, foram substituídas por viagens ao redor de Maceió, e ela dirige seu próprio carro, um Fiesta 2007. A vida de esposa de marajá foi deixada de lado.

Rosane acusa Collor de ter “confiscado”, ao melhor estilo “Plano Collor”, suas joias e malas da grife “Louis Vuitton” que tinham as iniciais do casal. “Achei tão pequeno, nunca achei que fosse terminar assim”, confessa Rosane. Para ela, a separação foi pior que o impeachment:

“No impeachment, nós perdemos um cargo. Mas, agora, foi a minha vida. Estava debilitada, frágil, tinha perdido a minha mãe (em maio de 2004). Imagina você chegar em casa e não encontrar mais o seu marido? Em quatro anos e meio, nunca ter falado com ele ao telefone, nunca ter tido um contato com ele? Então, isso é o que mais dói. Essa interrogação, porque tudo isso? Ninguém é obrigado a viver com ninguém. As pessoas têm o direito de ser felizes, mas elas têm de ser leias, íntegras”.

Rosane também diz ter se decepcionado com Collor como homem:

“Eu não me decepcionei com o Collor, eu me decepcionei com o Fernando, meu marido, com a pessoa com quem vivi durante 22 anos. Essa pessoa que está aí hoje, eu não conheço. Ou, talvez, como meu analista falou, acreditei que ele pudesse fazer com as outras pessoas, mas que seria incapaz de fazer comigo, por tudo que passamos. Então, me decepcionei com o homem. E muito”.

Além dos fatos atuais, na entrevista Rosane abre o jogo sobre algumas questões do passado, como a relação entre Renan Calheiros e Collor, a briga entre Pedro e Fernando, sua inimizade com Thereza Collor e o escândalo na LBA.

‘Fui inocentada’
“Acho que cometi um erro quando assumi a LBA (Legião Brasileira de Assistência, extinta no governo de FHC). Eu poderia ter colocado uma pessoa pra fazer tudo aquilo que eu queria, só que eu não assinaria nada. Então, eu não teria tido problemas. Tive problemas, mas graças a Deus fui inocentada. Até o meu salário como presidente da LBA eu doava para entidades carentes. E a prova é que não tenho nada no meu nome.”

‘Sentada ao lado da princesa Diana’
“Sempre procurei e pedi a Deus que o poder não subisse à minha cabeça, porque ele é efêmero. Imagina uma menina de 26 anos, primeira-dama do país, sentada ao lado da princesa Diana… Então, essas fazem com que você se deslumbre um pouco e as facilidades também. O que você sonha, está ali. Num estalar de dedos, tem tudo. Você chega nos melhores hotéis, com tudo à disposição, é uma mordomia muito grande.”

‘Idealismo não existe’
“O Renan apoiou o Fernando para a Presidência. Depois romperam e, agora, estão juntos. Aliás, todos estão juntos. Na política, não me surpreendo com mais nada, idealismo não existe.”

‘Foi um pesadelo aquela noite’
“O dia da votação do impeachment (29 de setembro de 1992) foi o pior, antes da renúncia. Foi um pesadelo aquela noite. Ele me ligava de minuto em minuto, mais um voto contra, mais um voto contra… E de pessoas que haviam estado com a gente na véspera e diziam estar a favor dele.”

‘Não me dou com ela’
“A Thereza Collor criou essa história de que vez de eu falar ‘estola de pele’, falei ‘pistola’. Isso é mentira. Não me dou com ela. Ela me fez muito mal. Nunca tivemos relação boa, mas me dou bem com os filhos dela… Ela não permitiu que Fernando e Pedro se vissem quando o marido estava morrendo.”

‘Venha conversar comigo’
“Eu e Fernando nunca mais trocamos uma palavra. Eu o vi só uma vez, aqui em Maceió, mas não nos falamos. Fiquei em estado de choque (…) Fernando, por favor, foram 22 anos que a gente viveu juntos, faço um apelo: venha conversar comigo.”

‘Madame está gastando muito’
“Tínhamos relacionamento, sim (com PC Farias, tesoureiro de Collor na campanha de 89). Nunca viajamos juntos, mas fomos ao Sambódromo, ele dançou tango lá. Lá na Casa da Dinda, tomava café da manhã. Mas nunca soube que era ele quem pagava as contas. Tanto que tomei um susto quando ele disse: ‘Madame está gastando muito’. Achava até que Fernando é quem depositava (dinheiro), que a secretária dele, Ana Acioli, era quem colocava na minha conta. De onde vinha (o dinheiro) não ia perguntar, nunca perguntei.”

Procurado ao tomar posse na Academia Alagoana de Letras, no dia 23 de outubro, Fernando Collor não quis falar sobre as declarações de Rosane ou qualquer outro assunto.

O Governo não liga para as drogas

Apesar de ter secretaria de prevenção ao uso de drogas, o Governo Federal não tem nenhum programa público para tal

Por Luan Borges
Ponto Notícia

Na última semana, acompanhamos o caso do humorista Marcos da Silva Herédia, conhecido como Zina, do programa “Pânico na TV!”, que foi detido portando uma cápsula de cocaína num carro. O caso, que foi comentado em toda a imprensa, fez com que o programa deixasse de lado um pouco o humor e falasse sério sobre esse grave problema que é o uso de drogas.

O programa entrevistou Izilda Alves, coordenadora do programa “Jovem Pan pela vida contra as drogas”, que revelou que o Governo Federal repassa apenas R$ 60 mil por ano, R$ 5 mil por mês, ao Estado de São Paulo para a prevenção do uso de drogas e tratamento de dependentes químicos. Izilda também revelou que 25% da população brasileira é dependente químico.

A equipe do Ponto Notícia consultou o Senador Álvaro Dias (PSDB/PR) se havia algum projeto no Congresso para uma campanha anti-drogas mais efetivas nas escolas, e a resposta que recebemos foi que “não há nenhum programa de governo instituído e o repasse de recursos para essa finalidade é pífio”, afirma Dias.

O trabalho da SENAD – Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas -, órgão que tem status de ministério se mostra ineficaz quando o assunto é realmente as políticas anti-drogas. O secretário Paulo Roberto Yog de Miranda Uchoa, que também é general-de-divisão do Exército Brasileiro, tenta implementar, sem sucesso, uma Política Nacional Antidrogas. Não há campanha de prevenção nas escolas públicas, salvo secretarias municipais para o assunto.

A deficiência do sistema público de ensino e de saúde brasileiros ajudam a agravar o problema das drogas. Em algumas comunidades carentes de São Paulo, não há uma ação social para a prevenção das drogas há mais de 20 anos. Em áreas de riscos do Rio de Janeiro, a situação se agrava: os traficantes assumem o papel do Estado, ausente nessas localidades, e conquistam o apoio da população local.

A chave mestre para a prevenção do uso de drogas é, sem dúvidas, da educação. Professores, alunos e diretores podem começar uma campanha anti-drogas em seu colégio. O uso de drogas é um problema que a população e o governo não podem fingir que não existe, pois atinge todas as classes sociais, sem distinção de raça, religião e orientação sexual.