(Por Luan Borges)
“Q de Qualidade só se vê na Globo”, “Qualidade também se vê na Record”, “A Qualidade que só o SBT tem”. Essa palavra está na moda. Todas dizem que tem “qualidade”. A Globo mostrou a sua qualidade, o seu “Padrão Globo de Qualidade”, falando dos estúdios de milhões de dólares, mostrando sua grandeza. Já a Record mostrou sua qualidade em números, mostrou seu crescimento de 2004 à 2008. Já o SBT mencionou rapidamente na chamada do então “Novosídolos”, querendo atacar a Record.
Mas será que a TV brasileira tem qualidade, ou só ego? É inegável que a TV brasileira é uma das que mais se destacam no mundo, junto com a americana e a mexicana, mas será que destaque é sinal que qualidade? Novelas com efeitos bizarros, estilo copiado, grades repletas de enlatados, jornalismo manipulado, falta de investimentos, trocas repentinas de horários, e, o principal, o sensacionalismo barato. São fatores que mostram que a qualidade passa longe.
O caso Isabella é um ótimo exemplo para mostrar que, na verdade, o sensacionalismo barato e a guerra pelo Ibope rondam a TV brasileira. Começou com a Record, que conquistou a liderança durante diversas vezes explorando o caso, o que obrigou as outras emissora a também explorarem o caso, inclusive a tal emissora do “Q”. Todos os telejornais da televisão brasileira, em especial os policiarescos como “Brasil Urgente”, “Balanço Geral” e o extinto “Aqui Agora”, só tinham uma pauta: Caso Isabella. Num instante não existia mais assassinado, corrupção e nem dengue no Brasil, só Caso Isabella. Vendo os índices da cobertura do caso, os programas de variedades como “A Tarde é Sua” e “Mais Você” também entraram na “cobertura”, e novelas, fofocas e culinária deram espaço a morte da menina Isabella. Isso é qualidade? Sugar o sangue de Isabella Nardoni só pra liderar no Ibope e terminar o mês comemorando o aumento na audiência que, logo após o fim do caso, cairá?
O problema não é somente as emissoras não colocarem programas de qualidade na TV, mas também o público brasileiro não gostar que qualidade. Como é possível a novela “Caminhos do Coração”, uma novela que tem um ótimo elenco, porém um texto vergonhoso do “Rei do Ibope” Tiago Santiago, e efeitos de última categoria marcar 20 pontos de audiência enquanto “Ciranda de Pedra”, uma novela com um elenco melhor ainda, um excelente texto e ótima produção marcar apenas 17, 19 pontos? O pior está mesmo é na TV Cultura, toda a TV Cultura, que nas pesquisas “boca-a-boca” todos dizem assistir, mas na pesquisa do Ibope disputa audiência com a Gazeta.
Além da falta de qualidade, tem também a “emissora preguiçosa”. A RedeTV! e o SBT são exemplos disso.
Em uma, basicamente, só existem quatro programas na grade diária, todos falando sobre os programas da Globo. Nem quando ela tinha uma produção própria, a excelente série “Donas de Casa Desesperadas”, os programas só falavam da Globo. Curiosamene, esses programas têm mais de 3 horas de duração.
Na outra, são os enlatados e reprises que dominam a programação. Desde às 7 da manhã até às 10 da noite são programas enlatados, salvo dois infantis, que não tem grande produção, e o “Casos de Família”, um programa de baixo orçamento porém cativante. Novelas? Só “Chiquititas”, “Lalola” e “Privilégio de Amar”, as duas primeiras argentinas e a segunda reprise mexicana, o tal “Vale a Pena Ver (5 Vezes) de Novo”.
Ó, Qualidade, onde estás? Talvez por esse “sumiço”, o “share” (números de televisores ligados), tenha caído muito, e o número de internautas brasileiros crescidos bastante. As emissoras não querem assumir, mas é inegável. É só ver ao seu redor. Não se comenta mais novelas, mas sim comunidades do Orkut e vídeos do Youtube. É a migração do rádio pra TV acontecendo de novo, só que da TV pra Internet. E tudo por culpa da letra F e Q: Falta de Qualidade.
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